A PARÁBOLA DO PAI DOADOR – EVANGELHO SEGUNDO LUCAS – CAP. 15-11-32. UMA MENSAGEM AOS PAIS – Por Pastor Wellington Ricardo

Rev. Wellington Ricardo – Pastor da Igreja Presbiteriana Simonton Conselheiro Pena

No seu excelente livro “O Filho Pródigo”, Henry Nouwen discorre sobre a conhecida parábola de Cristo. No entanto, nos surpreende ao afirmar que a ideia central de Jesus não era falar sobre o filho, ou os filhos, mas sobre o Pai, já que começa com a afirmação “Certo homem” (v.11). A ênfase, portanto, estaria no Pai, o objetivo de Jesus não era falar nem do filho que se foi, nem do filho que ficou, mas do pai. O centro da parábola não eram os filhos, mas o pai, que enxerga a vida com olhos diferentes. Nouwen afirma que o ápice da parábola é nos levar a uma identificação com o pai, já que, por natureza, temos a tendência de sermos eternos filhos, culpando os pais pelas derrotas e fracassos, e criando uma relação de dependência imatura e infantil. O texto nos convida a olharmos e imitarmos o pai, e deixarmos de viver como filhos, que cobram e exigem, amadurecendo e assumindo a necessária paternidade.
Os filhos possuem dois perfis:
O relativista moral – tipo da sociedade autônoma e independente, que não quer dar satisfação a ninguém por aquilo que faz. Este filho não teme a Deus, não ama o pai, e se julga no direito de reivindicar o que não lhe pertence, já que a herança culturalmente só era dada depois da morte do progenitor. Pedir herança antecipada era desejar a morte do pai, e dizer que o que interessava não era quem ele era, mas o que ele possuía. Este filho rompe de forma descaridosa e cruel.
O moralista religioso – O filho que fica demonstra ser rigoroso na sua ética. Trabalha arduamente, se empenha a fazer as coisas da forma certa, mas o seu coração é frio e distante. Não sabe nada do coração do pai e quando o vê agindo, passa a censurá-lo. Este é o típico modelo do “justo amargurado”, que não consegue se aproximar afetivamente nem do pai, nem do irmão, quando este decide voltar para casa. Como afirma Tim Keller, são dois modelos diferentes de ver a vida, mas ambos estão igualmente perdidos. O perdido que sai e o perdido que fica. Ambos precisam da intervenção paterna.
Como age o pai em relação aos filhos? Este é o modelo que inspira a parábola, e que nos desafia a querermos imitar o Pai.
O Pai é Conciliador – Ele tem a incrível capacidade de lidar com tensões em casa, com duas relações conflitivas: Com o filho que sai e com o filho que fica – que não saiu, mas nunca esteve por inteiro. Em Lc 15.28 vemos que o filho mais velho ao ouvir e música e os sons que chegam da festa em sua casa, se recusa entrar. Então o pai “saindo o procurava”. Para fazer o que? Conciliá-lo. O pai deixa a festa para socorrer o filho. Busca o filho, procura estar ao seu lado, ajudá-lo e se esmera em conciliá-lo. O Pai é demonstrado na parábola como aquele que promove o ambiente de paz. Assume seu papel sacerdotal evitando conflitos, conciliando, aproximando os diferentes, desfazendo barreiras. Quem não concilia filhos gera distensão dentro de sua casa de proporções imensas. Este pai procura ensinar aos seus filhos, a virtude do perdão e da graça. “Este teu irmão estava perdido e foi achado, estava morto e reviveu”. Perdoá-lo é uma grande benção, é restaurá-lo à vida.
O Pai é misericordioso – É interessante notar que este pai aprendeu a benção de deixar o filho sair e de deixar a porta aberta para o filho voltar. Isto parece tão óbvio, mas o que temos percebido é que a maioria não sabe a hora de deixar sair e nem deixar que voltem. Há pais que não deixam sair os filhos nem mesmo quando se casam. Alguns chegam a dizer: “Eu vou sustentar vocês, mas quero que vocês morem conosco”. Eventualmente surgem necessidades que nos levam a isto, mas assumir esta posição sem qualquer motivo impede os filhos de amadurecer. Na sua casa há lugar para arrependimento, confissão, para consertar a vida, mesmo quando o filho quebrou todas as regras da família. Ele sabe também lidar com o filho que fica com suas enfermidades, que é complicado, deprimido, amargurado e frio no seu coração. Ele se julgava muito justo e honesto, mas era duro e inflexível. Trabalhava arduamente, e não achava que podia desfrutar de seu trabalho e da vida, se tornando ensimesmado, interiorizado, auto centralizado, egocêntrico. Este jovem não sabe lidar com o lúdico, com o lado alegre da vida, com as expressões de graça e celebração, e o pai tem que lhe ensinar isto.
O Pai é generoso – Ele é liberal com seus recursos. Quando o filho reclama de nunca ter cabritos para comer com seus amigos, ele demonstra que o problema não estava na disposição dele em doar, mas do filho em desfrutar. “Tudo que é meu é teu”. O filho que saiu e se perdeu viu esta forma desprendida do pai. “Quantos trabalhadores de meu pai tem pai com fartura, e eu aqui morro de fome”. Mesmo os funcionários eram abençoados com esta dimensão dadivosa de seu caráter. Tenho visto como a generosidade facilita a vida de filhos e netos. Pais generosos abençoam, e com isto toda família ganha. A Bíblia afirma que o homem de bens deixa herança para os filhos dos filhos (Provérbios 13.22). No entanto, não é raro vermos disputas financeiras acirradas em famílias em lutas e disputas intermináveis, porque não sabem ser generosos com os seus bens. Nossa herança ibérica brasileira é um fator complicador para o exercício deste dom. Não sabemos dar. Ao contrário de outras culturas onde as pessoas aprendem a repartir e serem generosas. Aprender a abrir mão de nossos bens para abençoar outras pessoas pode trazer grandes dividendos e muita alegria, afinal, ser generoso é uma benção para quem dá e para quem recebe.

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