RESGATE HISTÓRICO: JOSÉ ARAÚJO LANÇA NOVA OBRA “ALVARENGA E SUAS ORIGENS”

o Escritor José Araújo e sua filha Juliana Tonini

O historiador mineiro José Araújo de Souza e sua filha, a engenheira civil Juliana Tonini Araújo de Souza, reafirmam seu compromisso com a memória da nossa região com o lançamento da obra “Alvarenga e suas Origens”. O novo livro é o segundo capítulo de uma jornada dedicada a desbravar o passado colonial da região, sucedendo o aclamado “A Conquista do Cuieté”.

Uma Vida Dedicada ao Passado

Para José Araújo, a escrita não é apenas um exercício acadêmico, mas o cumprimento de um destino que começou na infância. As narrativas que ouvia quando criança sobre os Sertões do Rio Doce e a lendária lavra Casa da Casca deixaram marcas profundas, despertando o desejo de investigar as raízes da colonização no interior do Brasil.

O historiador, formado em História e residente em Vitória (ES), dedicou mais de 40 anos de pesquisa para consolidar seus estudos sobre a penetração colonizadora e os caminhos que ligavam o litoral às minas de ouro — uma das primeiras frentes de exploração do Brasil Colonial a despertar a cobiça da coroa.

Parceria de Família e Paixão

Ao seu lado, a filha Juliana Tonini traz o olhar técnico da engenharia civil aliado a uma paixão compartilhada pelas origens de sua terra. Juntos, pai e filha mergulharam em arquivos e documentos para oferecer um resgate impressionante da formação de Alvarenga e do Sertão do Cuieté.

“Ambas as obras são um resgate impressionante da história de nossa região”, afirmam estudiosos que acompanham a trajetória dos autores.

Entrevista Exclusiva

Com o objetivo de preservar a identidade cultural e histórica da nossa região, José Araújo, concedeu uma entrevista exclusiva ao Notícias no Leste, detalhando os desafios da pesquisa e a importância de manter viva a memória das gerações que desbravaram o interior das Minas Gerais.

Sobre a Obra e a Pesquisa

Notícias no Leste: Após o sucesso de “A Conquista do Cuieté”, o que o motivou especificamente a dedicar o seu segundo livro à história de Alvarenga? O senhor vê esta obra como uma continuação natural da sua pesquisa sobre a região?

José Araújo: Sim, uma sequência natural. Quando iniciei minhas pesquisas sobre a região do Cuieté, deparei-me com um grande volume de documentos do Arquivo Ultramarino, da Era Colonial, relacionados àquela conquista. Naquele período, o Distrito do Cuieté abrangia uma grande porção de terras no Vale do Rio Doce, território ao qual hoje pertencem dezenas de municípios – entre eles Alvarenga, minha terra natal. Logo de início, tracei planos para escrever diversas obras, que seriam reunidas na Coleção Cuieté.

Notícias no Leste: Qual foi o maior desafio encontrado durante a pesquisa para “Alvarenga e suas Origens”? Onde o senhor buscou as principais fontes – arquivos, documentos, relatos orais?

José Araújo: Em 1972, aos 16 anos, iniciei minhas pesquisas sobre a história de Alvarenga para uma tarefa escolar no ginasial, resultando no livreto intitulado “Vamos conhecer Alvarenga”. Daí em diante, não parei de pesquisar sobre a região e seus arredores, dedicando-me com maior profundidade e afinco a partir do ano 2000. Inicialmente, tive grande dificuldade em levantar dados sobre os primórdios do lugar. Este foi o maior desafio do trabalho, cenário que mudou com a chegada ao Brasil, em 2005, da documentação do Arquivo Ultramarino, possibilitando o avanço de minhas pesquisas nesse sentido. Durante a realização do trabalho de pesquisa para a publicação de “A Conquista do Cuieté”, Volume I da Coleção Cuieté, fui separando documentos primários, manuscritos e registros de diversas instituições e arquivos oficiais relacionados a Alvarenga. A partir desses dados, somados aos levantamentos realizados no Cartório de Registro Civil e Notas de Alvarenga, na Prefeitura e na Câmara Municipal de Alvarenga, em arquivos civis e religiosos e nos acervos da Escola Estadual Governador Bias Fortes, do Arquivo Público Mineiro, da Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional, do IBGE, do IHGB-RJ e da Fundação João Pinheiro, entre outras fontes de grande valor histórico e relatos obtidos por meio de entrevistas, surgiu “Alvarenga e suas origens”, o Volume II da coleção.

Notícias no Leste: O que distingue a história da fundação e o desenvolvimento de Alvarenga em comparação com outros municípios vizinhos?

José Araújo: Alvarenga, com seus quase 300 anos de história, possui uma ligação estreita com o Cuieté, dentro do contexto dos descobertos auríferos nos sertões do Rio Doce, logo no início do século XVIII, havendo uma importante citação sobre o Ribeirão do Alvarenga datada de 1732. No entanto, não posso deixar de considerar a importância dos municípios vizinhos, também com suas histórias ligadas ao Cuieté – lugar que contribuiu significativamente para a efetiva ocupação do Vale do Rio Doce.

Notícias no Leste: Houve alguma história, documento ou relato sobre Alvarenga que o senhor descobriu durante a pesquisa e que o surpreendeu ou mudou sua percepção inicial sobre o município?

José Araújo: Sim, justamente essa carta de 1732, na qual Pedro Bueno Cacunda se comunicou com o capitão-mor da Capitania do Espírito Santo, Cirne da Veiga, manifestando a expectativa de explorar o seu tão desejado Alvarenga. Adiante, outra surpresa: a localização de uma carta de Dom Antonio de Noronha, datada de 1779, mencionando que aquele ribeirão fora explorado por José Pereira de Alvarenga – daí a origem do nome do atual município.

Sobre os Personagens e a Cultura

Notícias no Leste: O livro foca em quem foram os primeiros moradores e fundadores? Quais figuras históricas de Alvarenga o senhor considera mais cruciais para a identidade do município?

José Araújo: Sim, destaco como principal benfeitor o capitão José Francisco dos Anjos, que doou parte de suas terras para constituir o distrito de Bocayuva, atual Alvarenga, sendo considerado um dos fundadores do lugar. Outros benfeitores se destacam, como o tenente José Rodrigues de Oliveira, Manoel Onofre Pereira da Silva e Cristiano dos Reis Torres, que também deixaram grande legado na formação e no desenvolvimento do lugar.

Notícias no Leste: Além dos fatos históricos, o livro aborda as “histórias” de Alvarenga. O senhor conseguiu resgatar lendas, causos ou tradições populares que estavam se perdendo no tempo?

José Araújo: A partir de narrativas populares contadas por familiares e amigos, e de relatos passados adiante por gerações, foi possível esse resgate, com destaque para a praga do Padre Botti em Floresta, como era chamada Alvarenga naqueles tempos.

Notícias no Leste: Como o livro retrata a economia e o modo de vida em Alvarenga nos seus primeiros anos? (Ex: Ciclo do café, mineração, agricultura familiar).

José Araújo: Inicialmente, a vida no lugar se baseava nos modos e costumes dos imigrantes que ali chegaram, com destaque para os descendentes da etnia dos puris, que, da região do Rio Pomba, migraram para Floresta do Alvarenga, dando início ao povoamento. A economia de Alvarenga, em seus primórdios, teve como base o café e o fumo, com destaque também para a exploração da poaia.

Notícias no Leste: Qual é a importância, na visão do senhor, de registrar e preservar a memória e o patrimônio histórico de uma cidade como Alvarenga através da literatura?

José Araújo: A preservação e a divulgação da memória de um lugar buscam fortalecer a identidade cultural de sua comunidade e a valorização de seu patrimônio, garantindo que as gerações futuras conheçam e se orgulhem de suas raízes. Este é o propósito fundamental da publicação desta obra.

Lançamento e Impacto Regional

Notícias no Leste: Na sua opinião, qual será o impacto deste livro para os atuais moradores de Alvarenga, especialmente para as novas gerações que não vivenciaram os períodos iniciais do município?

José Araújo: Compartilho conteúdos relacionados a Alvarenga desde 2001, por meio de redes sociais e plataformas digitais, contribuindo para a consolidação da identidade local e para o acesso público a informações e fatos relevantes para o município. Apresento agora, por meio deste livro, de forma condensada e precisa, dados e informações sobre Alvarenga, apresentando os elementos históricos, sociais, ambientais e culturais que moldaram o lugar, na expectativa de que impactem de forma significativa a educação e o fortalecimento da identidade cultural da comunidade, despertando o interesse e a curiosidade das novas e futuras gerações.

Notícias no Leste: O senhor teve apoio de quais instituições ou pessoas para a concretização deste projeto? Qual a importância dos depoimentos orais de antigos moradores?

José Araújo: Este projeto foi realizado com recursos do Governo Federal, viabilizados pelo Ministério da Cultura por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), com repasse, execução e apoio da Prefeitura Municipal de Alvarenga.  São de grande importância para o sucesso deste trabalho os conhecimentos adquiridos a partir de entrevistas concedidas por todos que, generosamente, compartilharam seus saberes e memórias, contribuindo para o direcionamento de minhas pesquisas e linhas investigativas.

Notícias no Leste: Depois de Cuieté e Alvarenga, o senhor já tem planos para um terceiro livro, cobrindo a origem de algum outro município da região?

José Araújo: O terceiro livro já está sendo elaborado e estará relacionado a uma expedição realizada no ano de 1782, quando foram enviados 200 degredados à Conquista do Cuieté, por ordem do governador mineiro Dom Rodrigo José de Meneses, com o intuito de descobrir o Sítio de Pedro Bueno Cacunda e explorar ouro e a Serra das Esmeraldas. Este trabalho certamente impactará a historiografia de diversos municípios do Vale do Rio Doce, abrangendo Minas Gerais e Espírito Santo.

Notícias no Leste: Qual mensagem o senhor gostaria de deixar para os leitores do jornal Notícias no Leste e para todos os interessados em conhecer a fundo a história de Alvarenga?

José Araújo: Quem teve a oportunidade de ler a minha primeira obra, “A Conquista do Cuieté”, conheceu a importância e a imensidão daquele distrito – denominado país ou continente do Cuieté – na Era Colonial, cujas terras abrangiam mais de 50% da Bacia do Rio Doce e que, na atualidade, correspondem à área de cerca de 100 municípios. E agora, por meio de “Alvarenga e suas origens”, o leitor conhecerá um pouco mais a fundo a história de Alvarenga e a sua relação com o Cuieté e com as localidades vizinhas. Expresso meu agradecimento ao jornal Notícias no Leste por disponibilizar este espaço para a divulgação de minha nova obra e de meu trabalho.

O livro pode ser adquirido através dos contatos: (27) 98882-6232 / (27)99739-2207

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